quinta-feira, 18 de setembro de 2014

O SERMÃO DO PADRE DEIXOU NOIVOS E CONVIDADOS CONSTRANGIDOS


Em Maranguape, convidados da festa e os noivos ficaram "estarrecidos" com o sermão dado pelo padre Ricardo Pimentel durante o casamento
Por: verdinha às 15:51 de 18/09/2014
Padre Ricardo Pimentel Maranguape
Foto: Arquivo Pessoal
“Um casamento entre um católico e um evangélico não tem como dar certo”. Esta foi a frase dita pelo Padre Ricardo Pimentel no momento da celebração do casamento de Jeferson, que já foi evangélico e hoje se considera cristão, e Maria Fernanda, católica, realizado no último sábado (13), na Paróquia Nossa Senhora do Rosário, em Maranguape, na Região Metropolitana de Fortaleza.
O caso revoltou os noivos, os familiares e os amigos que estavam na igreja para a celebração do casamento e que esperavam do padre apenas palavras de felicidades para o casal que estava iniciando uma nova vida juntos. O engenheiro Jeferson diz que já foi católico e evangélico. “Já fui católico e evangélico, mas hoje eu não frequento nenhuma igreja, mas me considero cristão. A minha esposa é católica e parte da família dela também. Já a maioria da minha família é evangélica, mas também tem parte católica”, explica Jeferson.
“Católico tem que casar com católico”
Com tom de indignação, Jeferson relembra as palavras do padre. “Começou a cerimônia e no início ele me surpreendeu, perguntando qual era a religião da minha esposa e qual era a minha religião. A minha esposa respondeu que era católica e eu respondi para ele duas vezes dizendo que me considerava cristão. Isso eu falei e acredito que só ele e a minha esposa escutaram porque estavam muito próximos. Eu não falei no microfone da igreja. Aí ele pronunciou no microfone: ‘Ah, ele é evangélico. Ela é católica e ele é evangélico’”.
Segundo Jeferson, “a partir daí, ele começou a falar diversas coisas do tipo: ‘Eu não acredito que pessoas de religiões diferentes devam se misturar. Católico tem que casar com católico. Evangélico tem que casar com evangélico. Quem é da macumba tem que casar com quem é da macumba’”. “Também falou que não sabia como é que nós conseguiríamos criar os nossos filhos, porque isso não podia, que não acreditava nisso, que não fazia sentido”, contou Jeferson.
A noiva Maria Fernanda disse que notou que o padre estava se tremendo no momento da celebração. “Eu já comecei a achar estranho desde o início porque ele estava ficando muito em silêncio na hora das leituras e ele estava aparentando uma raiva”, disse.


O noivo afirma que as palavras do padre constrangeram os convidados e familiares. “Ele falou uma série de coisas que eu realmente fiquei chocado e sem nenhuma reação, porque foi uma coisa totalmente fora de contexto. Qual o sentido dele perguntar qual a religião no meu casamento? Tinham vários convidados da minha família na cerimônia, que são evangélicos, que se sentiram estarrecidos. Da família da minha esposa, que a maioria é católica, também. Todos os convidados, católicos ou evangélicos, ficaram estarrecidos com o tipo de colocação que o padre fez”, afirma o engenheiro.
Padre Ricardo Pimentel Maranguape 2
Foto: Arquivo Pessoal
Outro fato que demonstra a intolerância religiosa do padre foi quando ele pediu a cerimonialista, antes do início do casamento, para retirar todos os cânticos evangélicos da lista de músicas que tocaria na cerimônia. Jeferson estranhou a atitude do padre.
“Antes de iniciar a cerimônia, ele conversou com a cerimonialista e pediu que retirasse todos os cânticos que não fossem da igreja católica. Que o cantor estava proibido de rituar qualquer canto que não fosse da igreja católica. E que ele mandaria parar [a cerimônia], se ele passasse a cantar. Sendo que foi uma escolha do cantor. Nem havíamos pedido para ele colocar cantos evangélicos na lista das músicas. Eu já achei isso muito estranho né? Mas até o momento eu tinha relevado isso”, comenta.
“Pastores, parem de perseguir os católicos”
Jeferson diz ainda que o padre citou pastores. “Ele também falou mal dos pastores, dizendo que os pastores da igreja evangélica tinham que deixar os católicos em paz, que os católicos não estavam atacando os evangélicos. Então assim, ele fez como se fosse praticamente uma guerra santa entre católicos e evangélicos no meu casamento”, relata o engenheiro.
Maria Fernanda relembra que, depois disso, ele abençoou toda a igreja. “Familiares meus disseram que ele não abençoou o noivo. E sinceramente, como eu não sabia nem onde eu estava, eu não vi se ele abençoou o noivo ou não”, relembra.
O noivo descreve o que sentiu no momento do casamento.“Eu fiquei revoltado, não só eu como os padrinhos do meu casamento, minha família, meus pais, todos os convidados. Não teve uma pessoa que não tenha ficado horrorizada com o que o padre falou, inclusive as pessoas mais ligadas à igreja na cidade. Eu fiquei sem reação, sinceramente. Fiquei com vergonha do que estava acontecendo. No momento, eu me senti, inclusive, culpado. Eu me senti culpado por não dizer que era católico e passar pela aquela vergonha. Ele me constrangeu completamente”, comenta.
Padre se tranca no banheiro da sacristia para não ouvir reclamações
Padre Ricardo Pimentel Maranguape 3
Foto: Arquivo Pessoal
Jerferson conta também que o clima ficou tão “pesado” que muitos convidados se manifestaram no momento da cerimônia, pedindo para o padre terminar logo o casamento. Algumas pessoas, inclusive, foram reclamar com o próprio padre após o término da celebração. Para não ouvir as pessoas, o religioso se trancou no banheiro da sacristia.
“Os padrinhos ficaram totalmente alterados, nossos amigos, que são católicos, pediram para ele parar de falar aquilo e que ele encerrasse por ali. Mas ele continuou falando, dizendo que era horrível aquilo e que católico era pra casar com católico”, completa a noiva.
O noivo pensa, inclusive, em procurar a Justiça para expor o caso. “Eu já estou conversando com um advogado. Existe, sim, a possibilidade de acionar a justiça”, disse.
A Comissão de Acesso à Justiça da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB- CE) diz que é necessário verificar com mais detalhes a conduta do padre no casamento realizado e verificar se é o caso de solicitar uma indenização. A presidente da comissão, Renata Rebouças, diz também que o casal pode procurar a Igreja e expor o caso. “Eles podem fazer uma denúncia junto ao Tribunal Eclesiástico e colocar a conduta do padre para o Clero”, afirma Renata.
Pároco da cidade sabia que noivo não era católico e não viu problema na união
Os noivos explicaram que, ao decidirem casar, conversaram com o pároco de Maranguape, Padre Arildo. “A gente já tinha ido falar com o pároco da igreja. Nós conversamos e ele sabia que o Jeferson não era católico e que a família era evangélica. O pároco disse que não havia problemas. Disse que o importante era que educássemos nossos filhos na fé. E disse também que, se um dia o Jeferson quisesse frequentar a igreja, ela estaria de portas abertas para ele”, ressalta Maria Fernanda.
Como o pároco não pôde realizar a celebração porque tinha um casamento em Fortaleza para celebrar no mesmo dia, ele chamou o padre Ricardo Pimentel para substituí-lo e abençoar a união entre Jeferson e Maria Fernanda. A noiva, que frequenta a Igreja Católica desde criança, diz que nunca viu um caso do tipo. “Foi um caso que nunca aconteceu na história de Maranguape e em nenhuma igreja que eu fui. E eu fiquei muito abalada e isso estragou, praticamente, o casamento”, relata.
Procurado pela Redação Web da Rádio Verdes Mares, o pároco Arildo Queiroz disse que essa não é a opinião da Igreja Católica e falou ainda que é normal existir celebração de um casamento misto. “Eu tive com eles ontem e eu pedi desculpas, porque foi o primeiro casamento que o Padre Ricardo, a meu convite, veio fazer e gerou esse problema. Mas não é verdade que um católico com um evangélico não dá certo. Não é verdade. Existem muitas pessoas que estão casadas (um é católico, o outro evangélico ou até um não tem religião). Há algumas coisas a superar? Há, mas dá certo. Tudo vai depender da capacidade do casal de acolher, de compreender, de aceitar um ao outro”, afirma.



ALINE CONDE
Repórte

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